Escassez de mão de obra ameaça o futuro do cacau no sul da Bahia

O cacau do sul da Bahia, outrora símbolo de prosperidade e referência mundial, enfrenta hoje um obstáculo silencioso, mas devastador: a falta de mão de obra. O sistema de parceria conhecido como meação — em que metade da produção fica com o meeiro e a outra metade com o dono da terra — já foi considerado justo e atrativo. No entanto, mesmo diante desse modelo aparentemente vantajoso, trabalhadores dispostos a assumir pequenas propriedades são cada vez mais raros.

Esse fenômeno expõe uma mudança de realidade. Muitos jovens preferem migrar para os centros urbanos em busca de oportunidades menos árduas e, em tese, mais estáveis. O trabalho na lavoura, que exige dedicação diária e conhecimento técnico, já não desperta o mesmo interesse. O resultado é claro: propriedades parcialmente abandonadas, frutos que ficam no chão e produção comprometida.

Além da perda em volume, há a questão da qualidade. A fermentação das amêndoas, etapa crucial para garantir sabor e aroma ao chocolate, exige técnica refinada e acompanhamento rigoroso. Sem trabalhadores capacitados, o cacau fermenta mal, perde valor e deixa de competir com as origens mais qualificadas do mundo.

Essa crise de mão de obra revela também a ausência de políticas públicas e estratégias do setor privado para valorizar e profissionalizar a atividade. A agricultura familiar, pilar da cacauicultura regional, carece de incentivos que atraiam e mantenham trabalhadores no campo.

O risco é claro: sem renovação da mão de obra, a região pode perder protagonismo e ver esvaziar-se um patrimônio histórico e cultural. O cacau do sul da Bahia não sofre apenas com a oscilação de preços internacionais; sofre, sobretudo, com a falta de quem queira cuidar da terra e transformar frutos em riqueza.

Comentários