Queda Repentina no Preço do Cacau na Bahia Gera Preocupação Entre Produtores

Ilhéus, 29 de agosto de 2025 – A empolgação que dominava o clima entre os produtores de cacau do sul da Bahia deu lugar à frustração nesta semana, durante a Expocacau 2025. Após meses de valorização recorde, o mercado sofreu uma queda inesperada no preço da arroba, levantando suspeitas sobre possíveis manipulações no setor.

De R$ 645 para R$ 560: A virada no mercado

No início de agosto, o preço da arroba de cacau chegou a R$ 645 na região de Ilhéus-Itabuna, impulsionado por uma oferta restrita e forte demanda nacional e internacional. Contudo, no fechamento do dia 28 de agosto, o valor já havia recuado para R$ 560, permanecendo estável frente ao dia anterior, mas significativamente abaixo dos picos recentes.
Fonte: br.investing.com
Fonte: br.investing.com

Suspeitas sobre a atuação da indústria

Para os produtores, a queda não pode ser explicada apenas pela recuperação da safra africana — principal fator global de pressão sobre os preços. A Associação Nacional dos Produtores de Cacau (ANPC) denuncia uma disparidade entre a cotação internacional e o que está sendo efetivamente pago no Brasil. Em alguns casos, a diferença chegou a R$ 85 por arroba.

A presidente da ANPC, Vanuza Barroso, foi categórica:

“As indústrias fazem o que querem na precificação interna.”

Já o produtor José Luís Fagundes, de Igrapiúna, desabafa:

“Quando todo mundo se animou, veio um banho de água fria.”

Concentração de mercado preocupa

O setor é altamente concentrado. Multinacionais como Cargill, Barry Callebaut e Olam/Ofi dominam a compra do cacau brasileiro, o que lhes confere forte influência na formação dos preços.

A professora Mônica Pires, da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), analisa:
“É uma cadeia com poucos compradores e muitos vendedores. Numa queda de braço, o poder está do lado das indústrias.”

Além disso, práticas como o uso de cotações futuras com deságio — em que o preço é artificialmente reduzido — têm acentuado a instabilidade. Em agosto, a bolsa projetava o cacau de março de 2026 em até US$ 1.000 por tonelada abaixo da cotação à vista.

Impacto direto no campo

Com o recuo nos preços, muitos produtores tiveram que rever planos. Josenilda Silva, de Jitaúna, adiou investimentos que pretendia fazer com os lucros do fim de 2024. Já Fagundes, que recentemente adquiriu um trator, hoje hesita:

“Será que os preços não vão cair novamente? Não há credibilidade.”

O analista Adilson Reis, do portal Mercado do Cacau, destaca o efeito psicológico do movimento:

“A maior dor é ver o ciclo de reconstrução se interromper.”

Caminhos para o futuro: inovação e sustentabilidade

Apesar do cenário incerto, a Expocacau também trouxe esperança. Projetos como o Plano Inova Cacau 2030, a atuação da CocoaAction Brasil e parcerias com empresas como a Yara apontam para uma nova fase do cacau baiano — com foco em inovação, sustentabilidade e resiliência.

Estas ações buscam elevar a produtividade, diversificar a renda no campo e reduzir a dependência de um sistema de comercialização vulnerável e concentrado.

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